O que a análise dos tributos diretos no topo da distribuição nos informa sobre a desigualdade racial no Brasil?

  • João Pedro de Freitas Gomes FEA-USP
  • Ruth Pereira di Rada FEA-USP
  • Matias Rebello Cardomingo FEA-USP
  • Luiza Nassif-Pires Instituto de Economia da Unicamp
  • Clara Brenck UFMG
Palavras-chave: desigualdade racial, reforma tributária, tributos diretos

Resumo

Este artigo analisa os impactos distributivos do conjunto dos tributos diretos, considerando os recortes de gênero e raça, a partir de dados da Pesquisa de Orçamentos Familiares de 2017/2018. A análise é centrada no topo da distribuição de renda no qual parecem estar marcadas diferenças significativas. Em particular, discute-se a diferenciação da incidência dos tributos diretos entre homens brancos e negros. Enquanto para os primeiros é possível notar uma queda da progressividade dos tributos diretos comparando o 1% do topo com os 9% seguintes, o mesmo não ocorre para os últimos. Sugere-se que essa diferença pode ser explicada pelo fato do rendimento dos negros do topo ser majoritariamente proveniente do trabalho, em especial de regimes com carteira assinada ou emprego no setor público como estatutário. Já entre os homens brancos parte significativa dos rendimentos do estrato é proveniente daqueles que se declaram empregadores, potencialmente remunerados com rendimentos do capital. Tais diferenças indicam que a isenção tributária para lucros e dividendos é uma expressão do privilégio branco, sobretudo no topo da distribuição. Diante da discussão, no ano de 2024, de uma possível reforma na tributação da renda, este artigo aponta possíveis caminhos para se pensar elementos mais igualitários, em particular quando discute-se a garantia do princípio da equidade tributária. 

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Publicado
2024-12-07
Como Citar
de Freitas Gomes, J. P. ., Pereira di Rada, R. ., Rebello Cardomingo, M. ., Nassif-Pires, L. ., & Brenck, C. (2024). O que a análise dos tributos diretos no topo da distribuição nos informa sobre a desigualdade racial no Brasil?. Brazilian Keynesian Review, 10(2), 446-470. https://doi.org/10.33834/bkr.v10i2.370
Seção
Análise de Conjuntura